segunda-feira, 20 de julho de 2009

Maria Maria - A Missão

Li esse texto no blog Crítica da Bola e achei muito bom. Não somente porque fala da derrota das Marias na Libertadores, mas porque diz uma coisa muito verdadeira. Futebol não é estatística. Enquanto torcedores acharem que futebol é um mais um, continuaram sendo motivo de chacota. Quando entenderem que futebol é BEEEEEEEEEEM mais complexo, aí sim poderemos discutir.

Lembrando que, se o time das Marias fosse forte, não seria Cruzeiro, seria EURO!! :)

Segue o texto abaixo.

O Que Significa a Derrota do Cruzeiro?

E o Cruzeiro perdeu a Libertadores dentro de casa. Alguém mais experiente, pouco impressionado com o oba-oba promovido pela mídia, poderia pressentir o que era uma tragédia anunciada. O clube de Belo Horizonte entrou em campo já campeão, só se esqueceu de avisar o time do Estudiantes. Três dias antes, contra o maior rival Atlético, a torcida celeste gritou "Olé" enquanto seu time perdia. Não ousou fazer o mesmo na noite de quarta-feira. Enfim, foi um verdadeiro Mineirazo.

Em primeiro lugar, é preciso apontar que a festa antecipada da torcida era inevitável. A grande mídia, como de costume, foi irresponsável e fez coro. Poucos foram os que apontaram o óbvio - um empate fora de casa contra um finalista da Libertadores não garante nada. O mercado midiático faz com que os jornalistas esportivos digam o que os torcedores querem ouvir em vez de oferecerem uma análise qualificada e séria. Nada mais previsível, quem faz o contrário é crucificado pela torcida. Não consigo entender gente que prefere ler que o time será campeão quando ocupa a parte de baixo da tabela em vez de uma análise séria. Se é pra iludir, devíamos deixar as colunas nas mãos de representantes dos clubes.

Pelos mesmo motivos, ninguém agora ousa apontar culpados. E o culpado foi Adílson Batista. Apesar do bom trabalho, ele sempre pecou pela inexperiência. E dessa vez ficou claro que esse foi o motivo da derrota. Era papel dele conter os ânimos da equipe e não deixar o clima de "é campeão" contagiar os jogadores. Falhou.

Dito isso, e agora que a tristeza cruizerense - abafada pela festa atleticana, que respondeu de forma brilhante às provocações de domingo - arrefeceu, é possível avaliar o significado desse jogo com mais responsabilidade.

Digo desde já que não acho que ele tenha tido grande importância. O Cruzeiro continua sendo o único clube de Minas Gerais com dois títulos da Libertadores da América e, ainda assim, o segundo clube do estado.

É possível analisar um clube pelo número de títulos? Apenas para aqueles pobres de espírito que nunca entenderão do que se trata o futebol. Jaeci Carvalho, carioca que trabalha na imprensa mineira, fez uma dessas comparações estapafúrdias. Colocou Atlético ao lado de Cruzeiro e disse que "só estão empatados no número de (campeonatos) brasileiros". Se fosse assim tão fácil, poderíamos demitir todos os jornalistas que trabalham cobrindo o esporte. Um estatístico bastaria. Também poderíamos deixar de passar horas e horas nos botecos, nas praças, no trabalho discutindo e revivendo grandes momentos que fizeram parte de nossa história. E futebol é isso - história.

Não é muito difícil comprovar esta tese. Muitos dos campeonatos hoje considerados importantes, como a Libertadores, já foram desprezados. Nas primeiras décadas da disputa da Copa Libertadores, por exemplo, era comum que clubes brasileiros privilegiassem clássicos regionais e enviassem a equipe reserva para o campeonato continental. Isso ainda acontece em alguns países. Os míopes jaecis esquecem também que os campeonatos mais respeitados só começaram a ser disputados há poucas décadas. O futebol brasileiro - e o mineiro, por causa de Atlético e Vila Nova - são centenários. Joga-se 60 anos de história no lixo?

A Copa do Brasil, por exemplo, tinha tudo pra ser uma copa respeitada. Quando os times que participam da Copa Libertadores deixaram de disputá-la, se tornou um torneio desprezado. Eu já ouvi da boca de dirigente que existe a idéia de se extinguir a Libertadores (ou transformá-la em algo parecido com a atual Sulamericana) e se fazer um torneio mundial de clubes mais extenso. E que isso só não acontece pois a Champions League é muito lucrativa.

Se um novo patrocinador exigir uma mudança no formato e no nome da atual Libertadores, toda a sua história deixará de ser relevante? Não, óbvio que não. Mas não pensam nisso os que acham que o futebol se resume a uma tabela com números.

A mágica, a graça do futebol está justamente em que ele é um fenômeno maior que o esporte e as confederações. Ele mobiliza a paixão de milhões e, assim, a grandeza de um clube só pode ser medida em função disso. Não quero dizer que títulos não são importantes, óbvio que são. Fazem parte da história do futebol, são fundamentais. Mas um título não é igual a outro.

Alguém acredita que o título do campeonato paulista conquistado pelo Corinthians em 1977 vale tanto quanto o desse ano? Ou que a conquista da Copa do Mundo de 1970 vale tanto quanto a de 2002? Ou que a derrota do Fluminense na final da Libertadores vale tanto quanto a do São Caetano?

Não valem, pois o futebol é história e não números. E é essa história, formada por vitórias e derrotas, títulos e vice-campeonatos, que gera ídolos, torcidas, rivais. E é nisso que reside a grandeza de um clube. Torcer não é fazer uma aposta racional no clube que tem a maior probabilidade de conquistar o mais novo título da moda.

Um possível título da Libertadores do Atlético valeria mais do que o do Cruzeiro. E isso se deve ao fato de que Galo é o clube mais tradicional de Minas Gerais e tem a torcida mais apaixonada, e isso só a história explica. A torcida do Galo, talvez por ter sido tão roubada, tão frustrada, não se abate e apóia sempre. A do Cruzeiro é a exigente. Em uma final de Libertadores, se omitiu e deixou de apoiar o time assim que levou o gol de empate. Parte das torcidas organizadas deixou o Mineirão após a virada.

Aqueles que se impressionaram com as manifestações atleticanas pela derrota do rival não sabem de nada. Se o Galo estivesse em uma final da Libertadores, Minas Gerais estaria parada.

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