quarta-feira, 15 de abril de 2009

We'll never walk alone

Ontem, pela Liga dos Campeões, jogaram Chelsea e Liverpool em Stamford Brigde, em Londres. Jogo monumental, 4x4, com a classificação do Chelsea para as semifinais da Liga. Nem parecia o burocrático futebol inglês, e nos fez lembrar que o futebol é feito de gols, portanto, quanto mais melhor. NA ESPN Brasil, no jornal do meio-dia, estavam falando que o jogo foi uma pelada. E eu concordei. Duvido que os boleiros de fim de semana querem jogar uma pelada que seja 0x0. Duvido. Mas o jogo, além do espetáculo, deve ser lembrado por outra coisa. Ele estava marcado para hoje, mas foi jogado ontem. Sabe por que?

No dia 15/04/1989 ocorreu uma das maiores tragédias do futebol mundial. Foi no jogo Liverpool e Notthingam Forest, pela semifinal da Copa da Inglaterra, no estádio Hillsborough, em Sheffield. Devido a superlotação, muitas pessoas que estavam do lado de fora queriam entrar e forçaram o portão do estádio. Várias pessoas que já estavam dentro do estádio foram amassadas no alambrado, causando a morte de 96 pessoas, todas torcedores do Liverpool. Incluindo um primo de Steven Gerrard, camisa 8 do Liverpool dos dias de hoje. Atendendo um pedido do próprio Gerrard, a UEFA remarcou o jogo para que a data fosse lembrada pelos ingleses. Ao som do famoso grito "We'll never walk alone", milhares de torcedores relembraram os mortos dessa tragédia.

Depois desse episódio, o futebol inglês passou por uma profunda reformulação, conhecida como "Relatório Taylor". Pregava que os estádios do país deveriam mudar suas estruturas, como retirar grades e alambrados, a "geral" estaria extinta, todos os torcedores deveriam ficar sentados e a polícia deveria ser treinada para atuar contra os hooligans. Resultado, depois de 20 anos, a Inglaterra tem um dos campeonatos mais rentáveis do mundo e seus estádios são referência para todos os outros.

Enquanto isso, em um certo país tropical abençoado por Deus, as mudanças ainda não chegaram. Estamos ainda em abril e já tivemos inúmeros casos dos hooligans brasileiros. Os estádios ainda são sujos e mal conservados, a reforma custa quase que outro estádio inteiro, a maioria dos times brasileiros dependem dos estádios públicos porque não possuem o seu próprio e, com isso, o torcedor cada vez mais passa a assistir os jogos em casa. Só como exemplo, o Manchester United tem a incrível média de 75mil pagantes POR JOGO, enquanto que o Flamengo, "maior" time do país, levou em média pouco mais de 38mil no brasileiro do ano passado.

Interessante saber que o pessoal da Inglaterra não esquece uma tragédia que aconteceu a 20 anos, mas o pessoal daqui nem se lembra que 7 pessoas morreram em Salvador quando parte da arquibancada cedeu. Nem que teve briga no último Corinthians x Santos. Nem que dois torcedores do Galo morreram num ponto de ônibus em BH quando iam pro jogo. Mais uma vez, coisas de Brasil.

Uma das grandes sacadas do Relatório Taylor foi afirmar que, se você coloca torcedores em um lugar sem as mínimas condições, eles não agiriam de forma civilizada. Por isso, ele focava as mudanças não na prisão de hooligans ou torcedores, mas sim na infra-estrutura do futebol inglês. Ou seja, tratemos os torcedores com "todo o carinho" e eles responderam na mesma moeda, e a recíproca é verdadeira.

A Copa de 2014 está aí. O governo Lula já começou a preparar a gastança e quem vai pagar a conta será o próximo governo. A FIFA ainda não sabe se as cidades-sede do Brasil terão condições de abrigar os jogos. E, enquanto isso, os dirigentes batem cabeça para resolver essa questão com fórmulas mirabolantes, mas poderiam, pelo menos, dar uma lida nesse relatório. Ajudaria bastante.

Paz, até amanhã...

3 comentários:

  1. se for 0 x 0 numa pelada disputada, mais 5 min, ser continuar empate bora pros penaltis! hehehe que mal tem?

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  2. Eu nem sabia desse povo todo que morreu?!! Imagina se cai numa prova dessas de concurso... Tava lascada!!

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