domingo, 15 de agosto de 2010

[MÚSICA] Noite de autográfos

Apesar de ter sido lá em junho, este acontecimento merece uma recordação. Contarei uma experiência um tanto quanto íntima, que talvez não seja lá muito interessante para quem entra esperando fofocas ou coisas futebolísticas ou de F1.

Em 2006, como já disse em alguns posts pra trás, eu era um quase formado em biblioteconomia quando um maldito detalhe adiou a minha formatura em 6 meses. Seria realmente muito pouco, se não fosse o fato de que eu estava há pelo menos 2 anos tentando formar e por motivos diversos eu não conseguia. Em 2005, como manda a tradição, a UnB entrou em greve e aí eu fiz minha monografia e apresentei em março do ano seguinte. Nas férias, eu entrei na minha página de aluno e descobri que ainda faltavam dois créditos. Depois de muito bate-boca, eu resolvi aceitar que tinha que ficar mais 6 meses na UnB fazendo natação para ser considerado um bibliotecário. Cumpri tudo direitinho, mas isso é outra história.

Isso me arrasou completamente e fiquei literalmente perdido. Depois de muitas horas, dias, meses de reflexão, eu saí um dia por aí e resolvi dar uma volta, indo num shopping popular que tem aqui no DF, perto da rodoviária do Plano. Lá pelas tantas, eu entrei na (provável) única loja de discos ainda em atividade por aqui. Mexendo no acervo, me deparei com uma promoção que hoje parece ter vindo dos céus. Todos os cds dos Engenheiros do Hawaii estavam custando exatamente R$11,90. Não tive dúvidas e comprei todos, por impulso, tentando entender porque tanta gente falava mal e porque alguns falavam tão bem. Talvez tenha sido uma das melhores compras da minha vida.


Para encurtar a história, ao escutar novamente aquelas canções que eu já tinha escutado uma ou duas vezes, e escutado algumas outras que nunca tinha escutado antes, senti um alívio por saber que alguém conseguia entender o que eu pensava, mesmo eu sabendo que o que eu pensava não era lá essas coisas. Naquela época, era exatamente o que eu precisava. Aquelas canções me inspiraram a tomar decisões dífícieis, mas que hoje eu vejo que foram fundamentais para me fazer ser o que eu sou hoje.

Depois que a gente cresce, a gente passa a achar meio babaquice essa questão da idolatria, tão presente nas fãs apaixonadas da família Restart e Cine. Por isso, toda vez que eu encontrava algum "famoso" na rua eu não sabia como agir, mesmo eu tendo admiração pelo sujeito. Já vi um monte deles por aí e nunca quis pedir um autográfo, por exemplo. Até esses dias, quando o Humberto Gessinger veio aqui em Brasília pra uma noite de autográfos para seu livro recém lançado. Quando fiquei sabendo, fui até a tal livraria onde aconteceria o evento, e fiquei na fila, falando com outros fãs de Engenheiros, muitos deles conversando sobre a obra, o livro, as músicas, e outros querendo chamar a atenção da atração da noite, sabe-se lá por qual motivo. E, no longo caminho, fiquei pensando o que eu poderia dizer para o Humberto, sem parecer aqueles fãs que eu tanto detestava.


A fila diminuía, eu ficava cada vez mais nervoso porque não conseguia pensar no que iria dizer. Pensei em fazer algum trocadilho com alguma letra que ele escreveu, já que ele mesmo adora fazer isso . Lembrei das situações que suas letras me consolaram, como quando eu descobri uma nova relação de amizade ("Eu sei que eles tem razão, mas a razão é só o que eles tem", de Cidade em Chamas), ou quando eu tentava entender o tratamento diferenciado que eu sofria das pessoas ("Quem são eles? Quem eles pensam que são?", de 3ª do Plural), ou quando eu tinha dúvidas sobre o outro "mundo" ("O céu é só uma promessa", de A Promessa). Pensei em contar que eu cantei uma música dele para minha afilhada recém nascida ("Pela janela alguém estará de olho em você, completamente paranóico", de Parabólica), ou sobre minha vontade de jogar tudo pro alto ("Às vezes fico a fim de mandar tudo pro espaço", de E-Stória), quem sabe talvez das vezes que me arrependi de ser tão babaca ("E agora eu pago meus pecados por ter acreditado que só se vive uma vez", de O Preço). Pensei inclusive em pedir pra ele me vender o baixo Steinberger que ele tem. Outras milhões de coisas apareceram. E quando chegou a minha vez, eu tirei a foto com ele (veja aqui), ele assinou meu livro, a única coisa que eu consegui dizer foi:

-Humberto, obrigado. Por tudo.

Ele me olhou com uma cara do tipo ter escutado isso um milhão de outras vezes, tão sinceras quanto. Mas nem me importei. Afinal, para quem já ajudou tanta gente nestas longas noites de solidão, ele tem o direito de ser um pouco assim...

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