segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Brado da Massa, por Vitor Nicoli

Vendo uma reportagem hoje na TV, divaguei sobre o significado de um clube de futebol na vida de um individuo. Não me assustei com o teor de violência urbana da reportagem (por mais estranho que isso pareça, já que faz parte do nosso cotidiano viver entre sangue e sofrimento, infelizmente), mas com as circunstâncias. Um homem, seqüestrado, foi deixado numa mata à mercê da própria sorte, sem água nem comida, descalço. Ao ser localizado por policiais militares, agarrado em uma árvore, com escoriações pelo corpo e com visíveis sinais de maus tratos, os policiais se surpreendem com a pergunta do homem: “Quanto ficou o jogo do Galo ontem?”. E a resposta do PM não deixou de ser igualmente, no mínimo, curiosa: estamos na final.” Só assim, então, o homem desgarrou da arvore e permitiu a aproximação de seus salvadores.

Eu como ser humano, me comovi e solidarizei com o homem. Mas como atleticano, eu o entendi. E com meu pai, que me ensinou a venerar Reinaldo, Cerezo e Cia. e a desprezar Wright, iniciei uma discussão sobre o Atlético. Esta é a conclusão que tirei:

Muitos me perguntam o porquê de ser atleticano. O fato é que a pergunta, cientificamente, é válida. Clube vive de títulos. Vitórias. Glorias que devem reciclar-se com o passar dos anos, para que novos torcedores possam engrossar a torcida e gerar receita, lucro e tudo o que isso abrange. E isso o Atlético não vive faz um tempo. Glórias de verdade. Sejam por árbitros mal intencionados, por incompetência própria ou por qualquer outra ironia do destino, grandes glórias nunca fizeram parte do cotidiano de um torcedor alvinegro. Isso é fato.Todos esses argumentos podem ser comprovados por dados estatísticos. Provados. Mas quem disse que a ciência explica a paixão? Diga pra um atleticano mudar de time. Argumente os fatos. E prepare-se para uma discussão sem fim.

Eu associo o fato de ser atleticano com a própria pátria amada. Atleticano e brasileiro possuem características que os fazem ser uma pessoa só, em qualquer canto desse país.

Tudo no Atlético é com dificuldade. Nada na vida desse clube é obtida com algum grau de facilidade. Dentro de campo ou fora dele. Jogos que parecem ser fáceis são transformados em enormes batalhas, históricas, com pressão do adversário até o ultimo minuto para que o atleticano possa comemorar o 1×0 com mais gosto. E você, cidadão brasileiro? Já conseguiu alguma coisa “de mão beijada”? Acredito que a grande maioria não, porque me refiro ao povo, e não aos poucos bem afortunados. Faz parte do cotidiano do brasileiro conseguir as coisas com dificuldade. Trabalhamos muito e conseguimos o que queremos com suor, contra tudo e contra todos. Somos um povo que luta. Assim como o Galo.

E quando a vitoria chega, por mínima que ela seja, comemoramos como se fosse a ultima, porque sabemos que ela veio com dificuldade, com gana, com vontade, com garra. Esse é o espírito. Assim como conseguimos trocar de carro ou ganhamos uma promoção de cinco centavos na padaria. Será comemorada a vitória. E a festa que o atleticano faz incomoda. Vestido com o manto sagrado, após uma vitoria sobre um time inexpressivo, perguntam-me: ganharam de quem? Não importa. A vitória é celebrada. Cada vitoria. Sem discussões. É o Galo.

E nas horas difíceis, que nos últimos anos insistem em nos acompanhar, o atleticano tira a camisa do armário e vai às ruas. Mas não o incomode. É a sua forma de protesto, de mostrar aos cartolas que por debaixo do manto tem um coração apedrejado e calejado, mas que continua batendo por aquele time que joga de preto e branco. Tudo o que pedimos é só um pouco de respeito a esse amor incondicional. E o brasileiro pede algo a mais aos governantes deste país que viram as costas para uma sociedade que clama por “consideração”? (Para não dizer outra coisa…vergonha na cara, hombridade, dignidade, etc).

Outro aspecto intrigante é a fé de um alvinegro.Por mais que a fase esteja ruim, quando o próximo jogo se aproxima, a esperança retorna com força máxima. Eu mesmo já cansei de dizer: “Nunca mais torço pra esse time”. Mas não tem como. Não tem. É impossível deixar o Galo. Por mais que o time insista em não reagir, o atleticano pode até não dizer, mas acredita que no próximo certame a reação vai acontecer. Com um santinho na mão, o radinho na outra, onde quer que o Galo esteja, a fé estará com ele, apoiando e empurrando. Essa espiritualidade faz parte do íntimo de qualquer cidadão brasileiro. Não é à toa que o Brasil tem uma das maiores misturas de crenças e credos, onde um católico joga flores no mar para Iemanjá e lê livros espíritas. É característica intrínseca de todos nós. Acreditar em um bem maior, numa força superior. Para aproximadamente oito milhões de pessoas em especial esse bem maior é alvinegro, forte e vingador.

E nunca deixamos uma briga de lado. Nunca entregamos os pontos. Até o ultimo minuto, até o apito final, o Galo luta e acredita na vitória. Não nos entregamos sem lutar. Não aprendemos a nos render. Temos coração, sangue correndo nas veias.

Assim como de quatro em quatro anos o eleitor vai às urnas acreditando que uma reação na nação possa ocorrer. Ele não desiste e nem pode desistir.

Mas como esse time tem tantos torcedores que largam o que estiverem fazendo para pegar um radio e escutar o jogo, onde quer que estejam, seja numa festa, na casa da sogra ou na igreja? Como que um time que não ganha títulos enche tanto o Mineirão? Como que eles gritam tanto para aquele time? Porque eles cantam o hino com tanta veemência? Como que aquele bando de loucos consegue infringir o medo sobre os adversários?

Porque somos atleticanos. Não viramos. Nascemos.

Mas não há nada pelo que torcer nesse time, você pode me indagar. Mude de time, você pode me aconselhar.
Abandonar o Galo significa abdicar o direito de viver. Seria um exílio da pátria.

Eu vivo o Galo. Vivo pelo Galo. Sou brasileiro, atleticano e não desisto nunca.

2 comentários:

  1. Incrível!
    Vou comentar sobre o post anterior!
    O texto podia estar escrito em qualquer lugar da internet que bastaria eu colocar os olhos pra saber que foi vc quem escreveu!
    Te vejo em cada linha!!
    Um beijo

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